Após aprovação
em concurso público junto à EMATER-RN, fui preparado e treinado com o objetivo
de trabalhar nas comunidades rurais de nosso Estado.
Inicialmente
fui designado para ser lotado na cidade de Campo Redondo/RN, mas, por capricho
do destino e não por acaso, uma troca repentina colocou São José do Seridó em
minha vida.
Olhando para
trás, vejo que, felizmente, eu não estava errado quando, confiando que tudo
estava dentro dos planos de Deus,aceitei aquele novo desafio sem
questionamentos, pois foi nesta cidade simples que realmente comecei minha vida.
Eu poderia
falar sobre qualquer coisa de São José e, ainda assim, encontraria coisas boas
a dizer.Mas, por uma questão de Justiça, não poderia deixar de lado o que me
trouxe aqui, o lugar onde começa a produção das verdadeiras riquezas de nossa
terra: a zona rural.
Tenho que a
zona rural, especialmente a de São José, merece ser valorizada, pois é nela que
tudo começa. É dela que sai a comida posta em nossa mesa e é dela que trazemos
nossos melhores costumes.
Foi nesta
terra, nesta São José do Seridó, que, desempenhando meu trabalho, minha
preocupação juvenil com as diferenças entre o homem do campo e o homem da
cidade pode ser amadurecida. E, mais, foi o campo São José Seridoense que me
permitiu contribuir para estreitar essas diferenças, passando por cima das
raízes colonizadoras, nas quais uns trabalham produzindo os alimentos para que
outros limitem-se a deles consumir; nas quais os governantes ignoram as
providências a serem tomadas; nas quais há o oportunismo exploratório.
Quando aqui
cheguei, às 14h daquele 21 de janeiro de 1980, ainda com meus 20 e poucos anos,
em companhia de Zé Nilton da Costa Dantas, São José do Seridó foi acolhedor e
receptivo, qualidadesque não se perderam com o tempo.
A força motriz
deste berço é seu povo, que, embora seja simples, tem sabedoria imensurável e
capacidade revolucionária.
Vi quando
cheguei, como ainda vejo ao longo desses 32 anos, que São José do Seridó é uma
cidade diferente. É progressista, dinâmica e transformadora, bastando ver
nossas comunidades polarizadas, como Alto
Grande, nas figuras de Chico Quirino, Veludo, Zé Marcelino Aurinoe Zezinho
Ursulino(estes dois em memória); Caatinga
Grande, na pessoa deChicão e Severino Ramos, este defensor do patronato e
fiel ao seu desejo de mudança; Riacho do
Roçado, com João Nóbrega, Beatriz Medeiros, Zeca Luiz Rodrigues, Titiá,
Bibi de Dorgival e Adonias; Quixabinha,
através do saudoso Zé Heliodoro, Neneco, Neco Ludugero, Sebastião Carcará,
Zequinha e meu amigo inesquecível José do Carmo; Barra-do-Rio, com Sebastião Clemente; Viração, com Birro Cirne; Olho
D´Água, com Aureliano,Zé Camilo e Vicente Furna; e tantos outros ruralistas,
que juntos ou separados participaram das primeiras reuniões pela diminuição das
desigualdades.
Não se pode
deixar de lado, ainda, outros nobres cidadãos que, vivendo na cidade,
preocupavam-se com as mesmas causas ruralistas, a exemplo de Terezinha do
Posto, minha primeira anfitriã, que me introduziu no campo e me permitiu
conhecer as lideranças locais; e Zé Medeiros, presidente do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais da época.
Feliz daquele
que, assim como eu, pode viver num município como São José, cujo povo consegue
sabiamente conciliar seus costumes com a politização e edificação de sua
comunidade, sempre lutando pela igualdade.
São José do
Seridó: cidade hospitaleira, bem cuidada e delicada. São José vai além das
imposições da modernidade. São José tem cultura e costumes. São José tem
encantamento.
Hoje,
honradamente me sinto um cidadão São José Seridoense, com participação na vida
social e política desta cidade, que aprendi a amar e pela qual me sinto
adotado. Aqui construí minha família e é aqui o lugar que escolhi com ela
viver.
Artigo publicado na Revista Algures, 2ª Edição, Setembro de 2012
Caro Valderi, simbles, bela, humana e objetiva exposição sobre a cidade que escolhestes para viver.
ResponderExcluirJá tive a oportunidade de obter várias informações sempre positivas sobre a cidade e povo de São José do Seridó, e o seu artigo/escrito apenas e tão somente veio a confirmar as sobreditas informações.
Espero que o amigo Valderi com sua visão de mundo, seu conheciemtno e sabedoria, possam cada vez mais tornar a cidade de São José do Seridó um local melhor, mais humano e solidário neste conturbado, desigual, violento e contextualizado contemporâneo mundo em que vivemos.
Um baraço
FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
OAB/RN. 7318.