sábado, 8 de outubro de 2011

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A ONDA DO BULLYING

PAULO AFONSO LINHARES

            Faz parte do nosso modo de ser (brasileiro) esse forte apelo à condição de colonizado, sobretudo quando se tratar de enxertar no nosso idioma palavras e expressões estrangeiras, como símbolo de status. Num país em que grande parte da população não lê nem a bula dos remédios que consome profusamente e sem receita médica, as pessoas se gabam por falar uma língua estrangeira, geralmente o inglês. Em países mais desenvolvidos, falar dois ou três idiomas além do nativo é algo corriqueiro e que se aprende na escola regular. Neste momento, na grande imprensa brasileira – que mais tenazmente difunde esse espírito colonizado – só fala desse tal de bullying, que nada mais é que, segundo reza a Wikipédia, aqueles atos “de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (do inglês bully, tiranete ou valentão) ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapaz(es) de se defender.” Os casos de bullying são bem comuns nos ambientes frequentados por crianças e adolescentes, sobretudo nas escolas.
            Desde os tempos imemoriais que indivíduos ou grupos “bolem” (do verbo indireto bulir, no sentido de fazer caçoada; brincar; zombar; que, gráfica e foneticamente, se parece com a palavra anglo-saxônicabullying, por mera coincidência) com outros nos ambientes coletivos, mormente nas escolas e, sobretudo, em face das pessoas que física ou psicologicamente trazem características capazes de dar azo às zombarias, revelando o lado perverso da agressão gratuita exercida reiteradamente contra alguém indefeso. Claro, o bom remédio contra essas pequenas, mas, extremamente marcantes agressões e zombarias, é a educação para a cidadania; são as lições que têm como eixo o respeito à dignidade das pessoas e às inevitáveis diferenças que nos caracterizam e tornam tão interessante a vida coletiva (imagine-se, por exemplo, se todas as mulheres tivessem os lábios, o rosto, os seios, as pernas... da Angelina Jolie, ou tivessem os homens o rosto e demais petrechos físicos de um Brad Pitt? Seria monótono demais viver.)
Em suma, uma postura humanística no rumo do pensamento do poeta latino Terentius (185-159 a.C.): “sou homem; não considero alheio a mim nada do que é humano” (Homo sum: humani nihil a me alienum puto.). Ou, para bem simplificar, basta a aprendizagem do exercício do mandamento do amar o próximo: a Bíblia diz em Mateus 5:43, 44 “Ouvistes que foi dito: Amarás ao teu próximo, e odiarás ao teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem.” Esse amor ao próximo – até mesmo os inimigos e perseguidores – se traduz no respeito ao outro, com todas as suas circunstâncias. Afinal, o homem é o homem e sua circunstância, como ensinava o filósofo espanhol Ortega y Gasset. O respeito ao outro é, com efeito, o respeito às suas circunstâncias. E quem respeita o outro em sua diversidade circunstancial, dele não zomba, não caçoa, não agride, enfim, not bullying.
Tudo isto de nada vale se o foco da questão for outro, o da resolução do bullying simplesmente pela contraposição da valentia, da agressão, do desrespeito, na antiqüíssima noção latina de que, nas palavras do jurista Ulpiano, é lícito repelir a violência com a violência ("Vim vi reppelere licet".). A propósito, nessa linha de raciocínio, estão divulgado cartazes de um programa anti-bullying, ilustrados com várias criancinhas de quimono: é o Gracie kids, ensino da arte marcial japonesa Jiu-Jitsu para crianças, objetivando treiná-las para resistir e reagir à altura diante de qualquer agressão física ou psicológica. Claro, na maioria dos casos de assédio, de bullying, é comum aos mais jovens resolver as coisas no tapa, o que decerto não é o caminho mais acertado. Sem dúvida, a senda da não-violência deve ser buscada, sobretudo porque, como constata o poeta francês Paul Valéry, “nós, civilizações, sabemos agora que somos mortais (Nous autres, civilisations, nous savons maintenant que nous sommes mortelles). Afinal, calma e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.      
 Escrito por Paulo Linhares às 01h16 AM
   

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